Ediouro lanza en Brasil "A história da destruição cultural da América Latina"



En una nota que que si te gusta a vos te da los datos
de la promoción en Brasil del libro de Fernando Báez
para este mes de septiembre:


Ladrões saqueiam diariamente a cultura das Américas


por Kelly de Souza


Há poucos países no mundo com uma riqueza cultural e arqueológica tão expressiva quanto o México. O INAH (Instituto Nacional de Arqueologia e História) registra que no país existe perto de 50 mil locais arqueológicos cadastrados, sendo que somente 176 estão abertos à visitação pública. Boa notícia? Não. Se por um lado há essa riqueza milenar, por outro existe uma das maiores roubalheiras culturais do planeta. Uma vergonha para qualquer civilização minimamente organizada.

O jornal mexicano El Universal, na edição do dia 23, mostra que quase metade desses 50 mil locais já foi vítima de furtos, numa média de 20 a 30 saques por dia. Fernando Báez, poeta, ensaísta, doutor em biblioteconomia e autor de História Universal da Destruição dos Livros (2006) e História da Destruição Cultural da América Latina (2010), revela que só quatro em cinco obras roubadas no México são recuperadas e quase um terço de todos os sítios arqueológicos já foi visitado pelos saqueadores antes do que o INAH. O triste resultado, segundo o jornal espanhol ABC: a perda de quase 60% da herança pré-hispânica-colonial do continente.

Blanca Paredes, arqueóloga e investigadora da Direção de Registro Público de Monumentos do México, diz: “O país inteiro é uma zona arqueológica… o INHA não consegue lidar com tudo. Calcula-se que esse tipo de saque ocupa entre o terceiro e o quarto lugar em criminalidade no mundo, depois do narcotráfico“. Segundo Edouard Planche, diretor da Divisão de Bens Culturais da UNESCO, o impacto da situação no México só é comparável ao da Guatemala, e de outros países envolvidos em conflitos armados, como o Iraque, Camboja, Afeganistão ou Colômbia. Os moradores das aldeias localizadas no oeste do México, antigo feudo da civilização Maia, não vão ao campo apenas para plantar ou cultivar, mas para procurar os chamados “monitos” (macacos), figuras antropomorfas antigas (algumas com mais de 2 mil anos) que são encomendadas pelos “corretores”, que depois as negociam com os colecionadores.

É óbvio que existe uma rede de cumplicidade envolvendo acadêmicos, autoridades, saqueadores e toda a sorte de golpistas fazendo parte dessa roubalheira, já que as peças saqueadas quase sempre aparecem depois em museus, nas salas dos ricos colecionadores, ou nas Casas de Leilões. Ainda segundo o jornal El Universal, o catálogo de peças pré-colombianas da casa de leilões Sotheby’s (sede em Londres e Nova York), mostra uma peça, “Mujer de Jalisco sentada”, com valor de 3.738 dólares, e outra, um “Jorobado de Jalisco agachado”, com valor de 2.875 dólares, ambas originárias da região ocidental do México, e vendidas em lotes de peças dos Estados de Veracruz e Colima, com preços de até 600 mil dólares cada lote. O jornal também sita que a galeria parisiense Binoche Renaud Giquello – denunciada pelo governo mexicano quando de um leilão de peças, produto de escavações ilegais – exibe em seu site (no menu “actualité”), uma peça (“Masque funéraire en pierre dure verte”) originária do sítio arqueológico de Teotihuacán (Patrimônio da Humanidade – UNESCO), localizado a 40 quilômetros da Cidade do México, com valor de 125 mil Euros. A jornalista do El Universal (Liliana Chávez) sita ainda que peças similares, ou outros objetos pré-hispânicos, são regularmente vendidos na Internet, em sites como eBay, Mercado Livre, entre outros, e nem sempre tem a sua origem comprovada.

A pilhagem cultural não é um fato isolado da América Latina. Fernando Báez diz que um milhão de livros, 10 milhões de documentos e 14 mil artefatos arqueológicos foram perdidos na invasão e ocupação norte-americana do Iraque, sendo esse, segundo Báez, um dos maiores desastres culturais desde quando os descendentes de Gengis Khan destruíram Bagdá em 1258. Ocorre que lá havia uma guerra, e mesmo esta sendo legítima ou não, pode-se entender as perdas, embora nunca justificá-las. No caso mexicano a pilhagem é lenta, pouco comentada, feita em grande escala e sem uma gota de sangue, e realizada às barbas da lei.

Uma velha piada local diz que se tropeçarmos em alguma região inóspita do México é provável que chutemos algumas pedras e debaixo delas apareça uma pirâmide, ou outro monumento histórico qualquer, tal é a riqueza arqueológica que as Américas ao longo de milênios “depositaram” em suas terras. A piada está perdendo a graça, e o México está perdendo a guerra contra a pilhagem de sua milenar cultura.


Kelly de Souza é jornalista colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura. Compulsiva por literatura, chocolate e escrita - não necessariamente nessa ordem.
Link:
http://cultura.updateordie.com/2010/08/25/ladroes-saqueiam-diariamente-a-cultura-das-americas/

Comments

Anonymous said…
Estupendo
Qué bueno que sepan en Brasil de este saqueo cultural!


Julio
Bogotá

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